sexta-feira, 20 de novembro de 2015

FOGO

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Há muito tempo não choro. Chorava de saudades. Das lembranças de uma menininha que não vejo mais. Chorava a ponto de desfigurar o rosto. Encharcava, literalmente, o busto. Doía a moleira. Mas há tanto tempo não choro que cheguei a pensar que a dor acabou. Na verdade todo mundo sabe que a dor é passageira. Assim como vai, volta. A dor é irmã das alegrias da vida. Por isso hoje chorarei quando partir. Mesmo que esteja indo aventurar nos braços das descobertas. Vou me des...pedir da família. Das crianças da casa que me atinam para o tempo que ainda temos para brincar. Deixarei a cidade, os amigos, as paisagens. Deixarei a Pátria mãe gentil. Deixá-la-ei quente, seca e violenta. Deixá-la-ei bela, grande e esperançosa. Vou cruzar o mar com medo de voar, por gostar mais de andar, navegar e até cavalgar. Ficarei exausto e ao mesmo tempo leve após chorar. Meus olhos estarão limpos de um colírio sal ao natural. Eu estarei parado e ainda assim a caminho. Mil pensamentos chegarão a vários lugares. Meus pés impacientes jus de peregrino, minhas mãos prontas a produzir e meu coração já veterano de sentimentos, estará pulsando como um recém-nascido. Porque chegar àquela terra é chegar ao lado de lá. É como dormir no sul e acordar no norte. É como ver portas abertas na linha do horizonte. É como empreender uma cruzada para acabar com o terror. É como apaixonar novamente por uma linda mulher para com ela aumentar as alegrias que nos farão sorrir, e diminuir as tristezas que ainda tivermos que passar.
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