quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA?

Lá eu já sei o que há, pois, eu sou o próprio
Lá eu comungo de domingo a domingo (pão e vinho)
Aqui, exatamente aqui, eu vivo e não gasto vidas
Eu diria no plural que aqui há mulheres lindas
Florestas ricas, nascentes protegidas, casarios de amigos
Até ficaria, se o singular da feminina me prendesse
E se as manchas florestais fossem somente de espécies
Os rios pelo menos no início fossem bebíveis e comíveis
Se os “irmãos” fossem mais amigos, digo, todos fossem amigos
Acontece que aqui não vale ser extenso, pois preguiçam
Não se descansa no meio da subida da escada, pois competem
E conceito de trabalho está intocavelmente definido
Isso me deixa pensativo o que me torna um trabalhador prodígio
Tudo por causa da síndrome dos status que atropelam o progresso
Mesmo assim, não me vou embora pra Pasárgada agora
Ainda falta um sono mais no degrau que leva à cama que ganhei
Ainda falta algumas obras, mais que estêncil a cores, nas paredes por aí
Ainda falta um beijo doce que me deixe leve para carregá-la ao mar
E pios dos pássaros, histerias nas praças, shows ao vivo, ver jogo, falta a taça...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O CAVALEIRO E O PEREGRINO

Eles são quase espelho um do outro
Um é mais velho o outro é mais novo
Uma das diferenças é que a cadeira de um se ajusta
A cadeira do outro está fixa enquanto ele se move
O mais velho tem moedas novas
O mais novo tem moedas velhas
O mais novo conduziu o mais velho no ombro
O mais velho enviou o mais novo para longe
Ambos são críticos da atual situação desmilinguida da arte
Enquanto o cavaleiro compara palavras ao ar
O peregrino compara os símbolos a bibliotecas
Por isso se encontram para resgatarem o passado majestoso
Eles são fortes quando afunilam os desenhos do presente
Dentro de casarões com fantasmas pacíficos de cores
Um é cavaleiro, cavalga, levanta cruzeiros, ensina, é nobre
Outro é peregrino, caminha, navega, aprende mesmo descalço

domingo, 22 de fevereiro de 2015

CASTELO DE AREIA

Pode ficar com o arroz e o feijão
São leões que vivem só de carne
Depois de salvo essas engordas são stocks
Para outras próximas e breves despedidas
Quando acordo, tenho calor de cozer o pão
Distante, pulsa meu sangue em outro coração
Atente-se a hora do seu trabalho nobre
Pratique a base do seu diploma diário
Cuide muito bem do que há sob suas asas
Mas cuidado com o escape dos palavrões
Principalmente os CRIMES dessa juventude
Que nem defesa terá quando a fachada ruir
Porque quando seus lábios branqueiam de medo
É sinal que meus pelos arrepiam e os espectadores calam
Só de olhar vai embora porque teme a humildade
Então toda imagem sorridente perde a cor revelada
Este é o fracasso da passiva infelicidade de quem sabe

sábado, 21 de fevereiro de 2015

CAPE COLD CARNAL

Depois daquelas serras, o mar
Além daquele mar, a mesma terra
Todo valor do sal tem todo calor do sol
Correntes aquáticas do oceano atlântico
Deleitam nas ondas da rosa dos ventos

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

MERGULHÃO

Uma rede sem fios
Campesinos escaldados
Muitos peixes no fundo
Pescam e voam os do topo
*
A estrada tem serras
E no céu água acumulada
Meu navio não navega
Óh Dona da âncora, impeça!
*
Mas o calendário comanda a ordem
Qual o fogo do pirão na panela grande
Cada dia que passa, mais perto do cetro
Só por causa do tremular das bandeiras
*
Estas quadras do Império
Faz mistérios revelados
Tem o calor de um abraço
E as areias da Fundação

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

PACIÊNCIA DE JÔ

O esforço simples por ser ato tem de fato um sentido lógico
A caminhada
Mesmo que o calçado descolado testa o passo agora
E em meio enluarado por um brilho doce eterno como o efeito do éter
Permanece essa trajetória valorosa qual a vossas vidas comparadas às estradas

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

REINO QUINTO

Eu tenho um quadro negro extensivo ao alto
Que situa bem acima e além do meu olhar distante
Hoje à noite bem no canto uma estrela me guiava
Ontem a mesma estrela no centro móvel estava
Esse é o quadro que ao longe pinta o tempo mutável
É por isso que me esqueço dos adornos do meu corpo
Pois se quero um quadro novo logo o tenho de imediato
Fecho os olhos num instante e no escuro encontro a alma
Com salpicos luminosos que preenchem todo o quadro
Qual estrelas que me guiam só com luzes sem seus núcleos
E com isso ganho o Mundo no estalo escondido num segundo
Que passou sem ser notado mas gravado está no céu eterno

CARNAVAL

Sempre tem gente
Que foge da gente
Que abraça a gente
Tem sons que imitam
O batuque do samba
Tem copos cheios
Com cheiros de cana
Tem máscaras claras
E máscaras escuras
Mas falta uma coisa
É o fogo da providência
Como o de São João
Onde beldades se doam
Entregam seus passos
Sobre o Paço que impera
Sedentas por êxtases
Dos sonhos lembrados
Expõem-se ao tempo
Sem perder o amanhã
É tempo da gente se ver
E ter essa chama da vida
Esqueça o brilho do aro
Concentre no desejo intocável
Que só é para quem não crer

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

OUTRA VEZ E OUTRA VEZ

Redação é o ato de escrever como bem reza o dicionário
Eu digo que é uma forma de revelar paisagens e personagens
Porque as formas e as sensações são expressas em gravações
Mesmo para quem não vê com dedos toque o braile e leia
Mesmo sem as mãos consiga redigir com superação inversa
Mesmo quem não vê, escreve, por interna intuição misteriosa
É uma ação primordial, essencial, ainda em evolução
Está muito longe da extinção por falta de executores
Pois até pegadas podem ser uma edição de trajetória
Textos podem ser simples ou complexos entendimentos
Curtos ou longos, entre outras dualidades e extremos
Realismo ou ficção, entre outras categorias e estilos
Porém a reedição significa algo mais para alguém específico
É a tentativa de resgate da emoção consequente da leitura
Sobre o que continua sempre acesso no coração do escritor

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

MESTRE E APRENDIZ

- Você viu o jornal. Só pode. Porque está aí agora quieto, pensando baixo.
- Sim, mas antes vi o jogo. Depois fiz um esboço. E só depois vi o jornal.
- Qual?
- O da TV.
- O que passou?
- Gols, mapas, pontes quebradas, água jorrando, petróleo escondido e outras séries de coisas.
- Ouvi dizer que os estudantes mais viajam do que estudam. É verdade?
- É assim: Quem vai daqui para Europa, por exemplo, ainda encontra algumas fronteiras abertas, então conjugam as mensalidades bonificadas ao calendário maleável. Os meios de transportes são relativamente baratos. Uma maquininha para atualizar o status e já está! Ó, uma beleza para agradar o índice do gráfico das capacitações no exterior. Mas não fica por aqui essa fama. Quem é de lá também faz o mesmo.
- Hum... Por que não vai para a praia então!?
- Sim, eu vou.
- Quando lá chegar faça o que lhe digo. Vá até ao spray (espuma) das ondas, pegue 10 conchas ou pedrinhas, respire fundo e lance uma por uma o mais longe que puder em direção ao mar. Veja bem se não tem alguém à frente, heim! Isto servirá para tirar o peso que você carrega.
- E depois posso pular do alto da pedra para dentro do mar?
- Sim, mas como você estará bem leve, cuidado para não voar.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

PRODUÇÃO DE TEXTO

Movimento Verde
Tragam-me papéis para a Revista
E tintas, pois há páginas ilustradas
Chegará a todos os países

“A OLIVEIRA DO MAGO
SE ESTÉRIL DESCRENTE
SE AZEITONAS CRENTE”

Título: FRAGMENTO (Isto não é um diário)

A noite passada conversei com um amigo de infância que esteve em outro espaço durante 7 dias. Alguns poderiam pensar que morou na casa da morte mas ele estava mesmo em coma. Eu fazia parte do círculo de orações para emanar energias que chegassem ao local onde ele estava com intuito de salvá-lo. O que deu certo, creio que porque assim Deus quis ou porque os Hospitalários o remediaram para voltar para este espaço. Depois não choveu sobre as pessoas que pagavam o que gastavam. Eu somente consumia, tudo, desde a euforia dos que me desejavam bem ou mal como a contenção dos que nem bem nem mal me faziam. Fui até a ponte mas a cancela estava fechada. Bem que eu podia passar por cima ou por baixo, mas teria o risco de cair dentro d`água. Então voltei para casa e dormi. Ou não dormi? O certo é que despertei com a certeza que tinha uma chance para refazer uma parte do passado. Podia optar em voltar à época de busca por uma amante, isto é, eu precisava experimentar para saber qual era “A”. Ou podia voltar ao momento em que não podia deixar cair aquela torre que eu e minha filha construíamos na sala das cores. Notei que minha mochila, velha de guerra, já estava arrumada no canto do quarto e eu com os olhos cheios de água já sentia saudades dos meus entes sanguíneos. Então, de frente para a praça abri a porta da casa modernista ao correr a porta envidraçada para ver se o cavalo branco pastava na grama onde se encontra um busto. E quando fui dar um passo adiante para monta-lo vi que estava descalço e sem casaco. Mesmo que o destino fosse a linha do Equador não sobreviveria aos percalços até à estação do salto. Seria um índio? Louco? Ou nu? Por fim eu voltei para dentro, abri a gaiola dos pássaros, furei o aquário dos peixes, empurrei a janela dos fundos e ali no quintal, na minha frente, encontrei o presente. De dia é o palco do treino da vida e de noite é o campo de estrelas cadentes. 

(...)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

THIS IS A SONG

Tenho 15 folhas das árvores d`loureiros verdes
Equivalem à entrada do festejo cotidiano
E um quadro em mesa transparente já pronto
Mais, a desconexão dos instrumentos guardados
E a quebra dos argumentos que impedem as tentativas
Na verdade tenho mais que 15 folhas das árvores
Tenho um Paço tão luminoso quanto o sol
Que se vê ao meio dia o céu se contentar com uma cor
Despojado sobre ouro líquido que alucina
Dentro de uma mata que muita vida abunda
Onde entra quem reconhece o dote dos sábios
Pois sabedor da diferença de silêncio e palavras
É pretexto que musica a língua do Dom que age
Assim passeiam os que respiram liberdade
Tendo consigo autoconhecimento, tem mais tempo
Carrega tranquilo e ileso a chave que livra do apego
Mesmo que a terra trema e o ar sucumba
Mesmo que a água inunde e o fogo emerja
Fica sempre à vista, seja uma ruína com paredes sem tetos
Que em conjunto do tempo e da Bela se faz o aconchego à prole
Seja em cantos do espaço e nas quinas do terreno
Sempre em meio, arrebatado, cheio, de intenso sabor da existência

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DECLARAÇÃO

Quando assento e sinto o vento
Vejo um quadro com uma estrada
Essa estrada está murada, tanto em pedra como em árvores
Tem um caminho estreito como um labirinto
Equipara-se a uma janela aberta sem abas
Ou o mar tranquilo sem tormenta, navegável
É que o vento vem de longe num sopro frio
Depois segue mais robusto por levar meus pensamentos
Diz a sacra profecia que um dia o mundo acaba
Antes disso a humanidade ilumina-se e degrada-se
Só queria conhecer quem murou as margens dessa estrada
E saber por que no vento vêm saudades e seguem verdades
Penso nos Patrícios que passaram as tormentas monstruosas
E chegaram justamente onde passa essa estrada frutificada
Creio que o registro deste feito antepassado inesquecível
Tenha confirmado que a terra é o quintal da casa
E as vias só protegem o peregrino dentre os muros
Pois sem eles ultrapassaria para além das margens
Se assim fosse o vento não o encontraria eternamente
Não haveria mensageiros que trouxessem ou levassem nada
As janelas teriam abas para que fossem fechadas
E as tormentas não se inquietavam pois estava em pé, no mar

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

PARA A DÓCIL MINHA CAPA É A COR DA GLÓRIA

Estou a milhas, longe, fora da nave e dentro de um vale 
Mesmo que não tenha embarcado e ainda em Minas
Eu não sei o que sente neste pouco tempo intenso
Nem o que passou em outros tempos da sua história
Qual é o lado da balança que o peso pende ontem e hoje
Não sei se a liberdade te aproxima de mim realmente
Ou se as lembranças te mostram intocável aos espectadores
Mas sei a cor dos seus olhos e o destino do seu voo ao oriente
E isso é suficiente para eu permanecer crente e amoroso sempre

KARMA LEÃO

Por favor, não se assuste. Coragem
Eu chego sempre assim, sem medo
Cresci em parte num arquipélago atlântico
Onde naveguei alguns bons dias estudando a vida
Mas aprendi mais com o fogo magmático do núcleo
Que os demônios não vivem no inferno profundo
Nem os anjos chegam voando com harpas do espaço
Noutra parte do seu susto por minha ausência por década
Caminhei livre, solto e residi em muitas casas linguísticas distintas
Onde sons, pinturas e falas revelaram minha identidade mística
Como você ou qualquer outro nascido eu tenho um destino
Esses mesmos que agora a pausa nos comprova estarem conectados
Mas amanhã é outra história porque os corpos se separam
A não ser que no seu karma haja uma cama como a minha
Que começa com o sol nascente, traça e estende-se até o poente
Quer dizer que o tapete que estamos tem na ponta leste a luz do oriente
E no centro, reunidas belas presas de leões e ferramentas das estrelas
Mas no ocidente tem um globo novo, nosso, que gira movido a esperança

COM TODA PAZ BATENTE

Existem muitas formas teóricas e práticas de escudo
Existe um triângulo com um olho dentro e raios ao lado
Por manuseio e conhecimento este é um escudo revelado
Na verdade é um espelho que esbugalha o globo ocular do oponente
De onde escorre toda maldade existente fulminada num instante
Estático, o espelho atua instantâneo ao malefício tentado
Seja pensado ou falado e mesmo que inconsciente esteja
O escudo rebate como a ciência do reflexo, em relance
Àqueles que correm a vista com desdém: De onde vem o forasteiro?
Pra onde vai é de onde vem e essa é a pulga que inquieta tanto
Os que falam baixo sobre o sapato raso e o pano surrado
Veio do fio da terra e do couro do gado no campo minado que não desarma
Este escudo triangulado é fixado a frente da pedra angular dos Templos
Não tem alcance para quem o mal produz, nem escadas, nem arremessos
Porque o escudo provém das mãos do bem que hasteia a bandeira da vitória

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

CONTOS DA BOA LIS

TONTA

A burrinha empolgada
Corria toda empinada
Lá no norte com o sul já sonhava
Mas no meio do caminho, coitada!
Ficou entalada na porta de entrada
Não porque era fofinha ou arrebitada
Nem a porta estava semifechada
Ela era uma burrinha magrinha
Sozinha bem que passava com folga
Só que com o hippo ela estava, burrada!
Com isso o porto do mar ela não mais desbravava
Mal sabia que o lobo chegaria naquele rio
Onde a sua porta deveria estar destrancada
Salvaria - talvez - a burrinha entalada
Mas primeiro de tudo cruzar aquela praça cruzada
Passar pela porta de arco enfeitada
Andar pelas ruas de casarões imponentes
Subir a estrada que leva ao castelo mais alto
E de lá ver o plano que fez a burrinha da história
Ser só peça de xadrez ou invés do zoológico
O que de fato alegraria o Marquês
E o hippo podia ficar onde estava
Afinal as elefantas do Infante já o namoravam
E as crianças contentes assim o admiravam

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

REJEISIM

Relativa é a obstrução
De idade, de geografia
De corpo que absorto
Com todo cuidado cresce
Mesmo que atrase a pressa
O cheiro da chuva engana
Porque é poeira que levanta
Do chão da gente plebe
A mesma gente que pede
É a mesma gente que compra
Só porque o sim alavanca
O campo aberto de devaneios
A idade madura não chora
Quando a cidade é aqui bem perto
Toda roupa esconde a pele
Mas a tribo do abraço impulsiona
Essa sina por um beijo que explode
Essa água inodora que bem serve
Para produzir a liga da arte do artista
Que não vende esse pote por nada
Quando doa palavras e depois vai embora

domingo, 1 de fevereiro de 2015

TRÍPLICE DO TEMPO

Vai acontecer que eu vou voltar
Vai acontecer que eu vou contar
Vai acontecer que eu vou te ver
Acontece que cá estou ainda
Acontece que escrevo a criação
Acontece que te vejo na imaginação
Foi quando as nuvens altas desceram
Foi por causa da importância da história
Foi o pulso certo que imortalizou o coração

MEMÓRIAS DE UM IDO (S. MIGUEL/AÇORES - 2004)

Acredito: Depois que você entra no paraíso você descobre tudo aquilo que projetava e o que realmente existia. Além disso o que haveria ou nã...