sábado, 29 de junho de 2019

É A TERCEIRA PESSOA QUE FALA

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Triste mar turvo, sons de gente
Nem o sal te reanima, não guarda
Dos maldosos, dos olhos
Até o santo do dia te goza
Ele é visto, você nada
Você é uma pecinha enfeitada
No canto das salas
O sol só te machuca
A tempestade apaga
O fogo que arrebatava
As suas costas são marcadas
Seus símbolos não te protegem
Você sonha com demônios
Eles te perseguem, é o seu carma
As pontas dos dedos são facas
Traem nas pontes aéreas
Nas grutas camufladas
Nas cartas apagadas
Nas análises dos sistemas
Encobertos pela luz da grana
Você lembra do mar alto
Da deriva, do barco, das furadas
Você é só um fragmento
Do quadro imenso do universo
Sua saudade é exposta
Suas crias estão mortas
Suas alianças destruídas
Seus sonhos são desenhos
Eles não fixam em texturas
Seu carinho perde para as "tecs"
Suas palavras são loucuras
Não entendem nada
Sua fragilidade é alimentada
Mas calma! Tudo acaba
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domingo, 23 de junho de 2019

SAGITTA

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Você pisou no chão da terra quente
O mesmo chão da geografia una
Da terra mista lusa língua grandiosa
Majestosa grande pátria nova, ainda
Você molhou no sal da imensa água
No mesmo sal do norte à sombra
Das fortalezas santas belas arquiteturas
Você soprou a nebla, você bebeu a chuva
A mística da rosa, a índia lisa nua
Dos ventos que irrigam o verde mancha
O Império pertencente, a vida, simples
Até os que resmungam, os fidedígnos
Você pisou castelos, os marcos
As ondas, chiados, os gostos, desejos
Te pertence as dádivas e a paciência
Nos mesmos versos babilônicos
Dos polos, os centros, no tempo
As sonoras poesias dos amantes
A sabedoria do corpo, da mente
Você faz parte desse Poderoso, Todo
Desse tempo afunilado, desse ritmo
Você é algo no universo, iluminado, maravilhoso
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segunda-feira, 17 de junho de 2019

POLITICISMO

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O esquema da política no Brasil
É que a democracia republicana
Permite e incentiva a escolha
De representações, pessoas
Seguidoras de princípios e condutas
Muitas delas certas e erradas
O sistema dá uma chance à massa
De colocar no topo da pirâmide
Um tipo de força, cabeças, conjunto
Que pode ser aceita ou rejeitada
A dura em muitos casos dita
É a própria marca do significado
É a que faz cuspir as falas, as feições
É a que faz surgir revolucionários
O poder tenta, conturba ou cala
Qualquer movimento magnífico
Que o comando queira controle
Nesse sentido as associações
Profecias e sinais, das novidades
Boas ou aceleradas histórias
Poderiam na hipotética ser ligadas
Aos escudos que o Vaticano emana
Aos homens de bem sem armas
Nas orelhas e entranhas da Amazônia
Pois armando a babilônia cinza
Desvirtuarão os irados
Atiçarão os injustiçados
Os que zombam serão traídos
A terra será machucada
Haverá uma seleção
*

O BAFO

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Você anda pela cidade
A pé
Você vê
Você sente
Você lembra
Dos sumiços
Das aparições
E os restolhos fedem
Escorrem, entopem
Mancham as vistas
Modernistas
Verdes
Cines
Viram latas
Homens e cães
Pilhas em esquinas
Praças, avenidas
Tobogãs, toboáguas
Vísceras espalhadas
As lâmpadas iluminam
Fracas, cobres, falhas
E os urubus goram
A bífida presa insana
A cara de nojo que atende
Te xingam em chiados
Sem ser de Minas
Os ingratos
Os sacanas
Desprezam o chão
As solas do sangue
O Dom
Em vão
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terça-feira, 11 de junho de 2019

ELES ANDAM POR AÍ

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Camuflados de vulcões
Mímicos dos que extraem
Nas abas minúsculas do ecrã
Nas cláusulas dos juros virtuais
Invisíveis números promocionais
Acréscimos nos pagamentos
Redutos dos que lucram rápido
Usos de marcas do além mar
Fragmentos de ouro daqui
Estão nas linhas telefônicas
No gel e pó de arroz do Trump
Nas oculares dos satélites russos
Eles estão nos códigos de barras
Embalagens, conteúdos, descartáveis
No efeito estufa, na secura, na fome
Estão nas profecias... E um dia acabarão
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quinta-feira, 6 de junho de 2019

DOM KISS HOT EM... O SAL DO IMPÉRIO

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Você não percebeu que ele está sumido? Será que anda a subir escadas? Golpeia cabeças de vento? Será que guarda alguma fórmula que transforma a maldade e melhora as coisas?
Dom Kiss Hot anda. Seus joelhos doem. Sua matriz arqueia. Ele pensa em trote, isso remete a muitas coisas, desde o andor dos cavalos aos finados mórbidos inversos universitários (veja como fica em latim). Ele vê que as árvores crescem. Elas demoram. Elas capturam as fumaças das formas, das peças, elas pintam as fotos tiradas da extratosfera sobre as faces do Globo. Dom Kiss Hot sangra e se acanha porque as árvores somem em alguns dias por causa da condução dos dirigentes, elas caem em alguns minutos por causa dos ganhos, e a ausência delas castiga os homens. Dom Kiss Hot pensa que há terrenos (países) que inventam maravilhas para atrair viventes, quando contentam com migalhas, mixórdias, figuras diplomáticas, políticas, religiosas, desportivas, alucinógenas e como a história e o passado contam, as propagandas prós de um mundo novo, velho sem saber a soma. Mas há os contras, que no outro extremo lançam calhaus, com os olhos e com as mãos. Dom Kiss Hot pensa na anedota dessa língua ampla, essas prosas extensas, essa rima base, essa letra fácil, esse mundo torto. Dom Kiss Hot não fala muito em ficções - ainda que metade dele seja isso mesmo - , ele pensa muito no momento mágico, no ressurgimento necessário, no seu máximo Dom.
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MEMÓRIAS DE UM IDO (S. MIGUEL/AÇORES - 2004)

Acredito: Depois que você entra no paraíso você descobre tudo aquilo que projetava e o que realmente existia. Além disso o que haveria ou nã...