segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

OLHOS N´ÁGUA

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Nós temos que estar sempre cientes do “poder” do ser humano em comparação às forças da natureza. A força das massas atmosféricas aéreas e aquáticas, as marés nos oceanos, a camada de ozônio, os polos congelados no globo, os tremores de terra e até o magma do núcleo são incontroláveis. Contudo, algumas reações da natureza são relacionadas ao nosso progresso ou desleixo cotidiano, tanto na esfera micro como é o caso de mutações de vírus quanto na esfera macro como os casos de desastres sociais e ambientais. O clima está mudando muito rapidamente desde a revolução industrial (1760-1840) devido as emissões de gases poluentes. Em simultâneo o aumento da densidade populacional gera um efeito dominó com necessidades de espaços para habitação e produções de alimentos, além dos consumos e prazeres mundanos artificiais, desde o fabrico dos filtros de cigarros às hélices dos drones. Essas modificações climáticas alteram a constância, o volume, a intensidade e periodicidade das chuvas, e outros aspectos físicos e naturais como as estações do ano, as migrações, a sazonalidade, o calor e o frio. Em Cataguases existem quatro (4) veios d´água que cortam a cidade dentre eles um de médio porte e outro de grande porte, e outros dois córregos relativamente pequenos mas também problemáticos. Meus pais residem no ângulo do vértice destes dois rios, justamente na zona de foz do Ribeirão Meia Pataca no Rio Pomba. Pode-se dizer que é uma região ribeirinha, de alagadiço após transbordo dos rios quando em períodos de cheias como esta dos últimos dias. Existe uma parte da população mais próxima aos rios, bairros inteiros paralelos ao fluxo das águas e que é afetada com a elevação e consequente transbordo. Não somos os únicos afetados, nem os mais gravemente afetados. Não é a primeira vez que os rios transbordam e invadem parte da cidade, nem será a última. Mas foi a primeira vez que presenciei uma enchente de perto, precisamente dentro dela. Estive na Pracinha Dr. Lídio, em apoio aos meus pais e de certa forma participei do drama de alguns moradores em situações mais difíceis em outros pontos da cidade. No decorrer das funções para salvar itens materiais de casa, fiquei imaginando a situação de outras pessoas sem tempo ou meios para retirada de seus pertences, outros em situação de doença, velhice ou recém-nascidos, enfim, toda a função cansativa e estressante de mudanças às pressas. Notei quão histérica e empolgada fica a população não afetada pelas águas, isto é, os espectadores a fim de acompanhar a agitação dos que se mudam às pressas e da transformação do cenário que se enche. Comportamento normal (banal) hoje em dia de acordo com o modismo moderno de registrar os acontecimentos e divulgá-los em simultâneo. Eu mesmo o fiz, e faço, à minha maneira, com cuidado de tentar dosar quando creio que se deve e escancarar em outros casos, quando acredito ser necessário. Na correria pelas calçadas cruzei com algumas pessoas que sem qualquer base, só por dizer, terrorizavam propagando informações falsas: “abriram as comportas da barragem agora!” ou com questionamentos puramente vaidosos e indelicados: “E aí, perdeu tudo lá na sua casa?”. Outro fato lamentável foi constatar algumas embarcações habilitadas, conduzidas por pessoas conhecidas, passarem pelas ruas alagadas e não atenderem a simples chamados, ignorando uma passagem rápida externa para trocas de informações ou atendimentos cabíveis. Sei que poderia haver socorros emergenciais, mas penso que todo e qualquer chamado às equipes de socorro por quem está dentro d´água (ilhado) têm que pelo menos ser respondido, o que não aconteceu em algumas vezes que cruzaram a minha frente, pois sequer respondiam, gerando uma sensação de descaso total, e ressalvo ainda que fossem equipe de salvamento emergencial, não os tomaria tempo de atraso ou prejuízo quaisquer. Outras embarcações não habilitadas, ou seja, meros curtidores da situação que passavam com suas boias e embarcações sem prestarem qualquer ajuda e ainda com ares de ironia foram vistos nessa enchente. Situação lamentável também foi – e ainda é – a grande quantidade de sacolas de lixo boiando e espalhadas pela superfície, vários tipos de materiais recicláveis sem o devido fim, com certeza vindos com a correnteza de outros locais ou dos próprios moradores da cidade, inclusive das áreas secas. Por fim é horrorosa a pequenez de algumas pessoas, sua falta de humanidade, a covardia quando se dedicam a associar culpas aos personagens públicos administrativos da cidade como se tivessem estratégias de obtenção de vantagens no meio do colapso, fazem piadas políticas e jornalísticas assinadas ou mascaradas logo após a descida da água, quando a população ainda se une com a máxima ajuda dos setores públicos e privados. Mas nem tudo são lamentações. Há pessoas de bem. Elas se ajudam durante e depois dos acontecimentos. Os vizinhos, os parentes, os representantes públicos de todas as Secretarias do Município, o próprio Prefeito Willian, toda esta gente boa que age dentro do triste acontecimento problemático, vivenciando-o e contribuindo para minimizar os estragos. Todos os dias temos que cuidar do meio ambiente local, regional, nacional e mundial. Enquanto plantamos 100 árvores, há os que derrubam milhares. Enquanto promovemos ações positivas, há os ociosos e os que perturbam e tentam prejudicar. Então temos que nos unir aos bons, fazer o bem, ajudar o próximo, contribuir com a conservação do meio ambiente, usar a ciência e poder econômico a favor e não nos abalar com os maldosos. Agradeço às minhas primas Lígia, Sabrina e Amanda, ao meu primo Flávio, ao Róbson marido da minha prima Raquel, nosso amigo Rômulo (Lolô), nossos vizinhos André e Ivan, Joselice prima do meu pai e seu marido Joter, ao Anderson do Iguaria, Wálber Secretário de Obras, Yegros, José Vanir marido da Sandra, Marco Aurélio Venditi da SAMA, Tia Sueli, Tio Jésus e meu primo Rodrigo, a Carol, ao Felipe da ECO-REMADA, os socorros prestados pela Defesa Civil aos mais necessitados e a todas as pessoas que ajudaram e se preocuparam não só com a nossa casa (por coisas meramente materiais, ao meu ver), mas com as casas e as vidas de todas as pessoas que passaram por situações de enchente. 
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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

SIGNAL CAMÕES WEB PESSOA, CÂMBIO?

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Com a ciência
Tem hora que a gente não vê nossos comportamentos
Quando estamos presos ao que os outros pensam
Ora, não percebemos nossos atos perante o tempo
Por conta decerto dos passos no mundo
Evidentes polos de sistemas e jogos coletivos
Uma matriz de tendências
No Brasil vive-se um misto de observação sem sal e açúcar
Nem tentam frear essas palavras ou seria sangue
Tenho que compreender que ficam eufóricos
Faz-se em sentimentos
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

BRUXA MALVADA

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A que te ignora por birra, mal educada
A que ataca como o bolso, por nada
Mancha a harmonia dos chegados
Abala o bom dia, a mão dada
Da mesma sala, sem tolerância
Empolgada por ambição de contratos
Não conjuga letras direito
"Para mim", fala tudo errado 
Para eu corrigir recém formada
Esse desabafo sob a chuva
Sem acelerar máquinas, só passos
Meus elogios jogados fora, ingrata
Pelas covas abertas nas praças
As mãos de barro, suor e dor
Por uma estátua que aponta covarde
Não é todo mundo, é a metade da mágoa 
A que louva hinos sacros evangélicos
Taxa e pede com bizarra risada 
Gente perigosa sob a minha barba
Fofoca e afronta como a licenciada
No ambiente de brigas por ares
Ofende porque não vence
Porque é radical e derrotada
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

NA MESA

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Lembrou das vértebras encavaladas do cavaleiro
Das alavancas, dos passos escorados e do carro velho
Ficou sob as barbas do guia de outrora nas serras e chácaras
Sob o pôr do sol daqueles dias mais coloridos que os de agora 
Falou com o mudo, o cego, o surdo, o paralítico e o astuto
Mostrou ideias, letras, figuras, com o toque da imaginação
Trouxe o lunático para a Terra, de águas, florestas, pessoas e bichos a cuidar
Içou a bandeira que molda o revolto com a calma e o olhar
Ao lado do Mestre, bem junto da máquina, como quem treina mandar
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MEMÓRIAS DE UM IDO (S. MIGUEL/AÇORES - 2004)

Acredito: Depois que você entra no paraíso você descobre tudo aquilo que projetava e o que realmente existia. Além disso o que haveria ou nã...