terça-feira, 19 de janeiro de 2016

FOI A CHUVA QUE ME BEIJOU

Se você soubesse que a noite passa e amanhã pode não chegar, talvez se entregasse no primeiro pedido que a fiz. Entregue a mim você saberia que gosto de todas as ruas por onde passo, inclusive aquelas esburacadas, empinadas, cheias ou vazias, quando estou ao seu lado. Sendo a chuva dona dos meus lábios, talvez queria ser você a mesma vinda do alto, rala e que molhou a minha boca, começando por lamber a lã da minha cabeça, depois pingar num olho que me fez piscar diante do seu rosto. Lado a lado saberia que meu barco é o próprio mar, meu cavalo ainda cresce e por mais que tenha o nome de uma ave que não voa, ele galopa armado dos cascos aos dentes. Se a chuva não tivesse caído eu continuaria a desejar seu rosto, seu sorriso e seu olhar, e não trocaria por licores ou manjares divinos, tudo, porque a vida tem um poder arrebatador que se manifesta em forma de empatia e logo num instante transforma em paixão ao ponto de conectar os corpos e assim deixar-nos mais fortes. Mas foi a chuva que me beijou enquanto a Pentecoste se esforçava por comunicar um agrado sabedor de muitos ritos porém incapaz de te conquistar definitivamente. Não culpo a chuva, mas culpo o fato de me ter separado dos seus lábios sem ter-me atirado a si como a própria chuva se atirou a mim. Para mim é um fato tão árduo pois adia, mesmo por um dia, o novo rumo desejado, talvez também por si, que não se importa dividir a minha vida com a própria chuva. Se você soubesse que amanhã pode nunca chegar, talvez, queria ser você a água do céu. Ela viajou, tocou-me e escorreu para se perder como agulha no palheiro ou gota no oceano. Contudo o seu beijo é diferente, porque marca e é capaz de iniciar uma nova história tal como o farol conduz os navegantes às novas descobertas. Sabido disso, espero que me venha como a chuva, que seja rápida e não espere que lhe peça uma gota, já banhando-me com seus pingos. Pois estou mirando a luz que me atrai a si, mesmo que agora esteja em terra firme, seco e só.

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