domingo, 22 de maio de 2016

ESCUTA... LÁ VEM DOM KISSHOT

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Pois bem, a história continua. Um dos personagens havia sumido, lembram? O narrador foi pescar por não ter o que escrever. Passou muito tempo sem novos capítulos. Por causa do amor recusado por Dora Té (A Dona do Chá), Dom Kisshot (O beijo quente) decidiu vagar sozinho para além do cenário onde se aventurava antigamente com seu fiel amigo Santo Pança (O bom sorridente). Pança foi o primeiro a encontrar com Dom. Ele não o viu de longe, não ouviu trotar cavalo, nem foguetes, mas sentiu um sopro aveludado vindo dos ares do norte, como se alguém soprasse um instrumento apoiado no dente. Na verdade Dom Kisshot reapareceu sem sua lança, um pouco mais velho e embaçado por conta de seus pelos queimados pelo sol e pelo sal. Dora Té não bebe mais chá. Ainda continua a se chamar Dora Té. Mas não bebe chá. Ela não mudou de ideia com relação a Kisshot, só deixou de beber chá. Não me perguntem o que ela anda bebendo, mas não é chá. (...) Ansioso por escutar Dom, Pança foi logo perguntando ao seu amigo o que ele fez nesse tempo distante.
PANÇA: - Meu saudoso amigo, conte-me suas aventuras além do Vale, como eu não pude lhe acompanhar para que você pudesse se encontrar.
DOM KISSHOT: - Você está preparado para acreditar na real fantasia, Pança? Então vamos lá. Eu saí daqui amando e continuo amando. Amo uma força feminina que é tão potente que assume a forma de wicca, lua, fera felina, terra e a bendita chuva. Sozinho, beijei a água lá do céu, que escorreu pelo meu rosto até molhar os meus lábios. Ao invés de esfriar meu beijo, aqueceu meu sangue. Nas noites de lua cheia, subia ao ponto mais alto das montanhas que avistava, só para declamar poesias das mais lindas a ela. E ela me iluminava. Houve uma vez que uma leoa, sem juba, claro, olhou-me tão fixamente nos olhos que me paralisou durante duas semanas, como se me consumisse e comesse a alma que transbordava com o seu olhar. Andei ao lado de guerras travadas entre 3 exércitos em simultâneo, e mesmo não estando em combate fui tratado por uma Hospitalária da Cruz Vermelha, numa cama de lençóis brancos e perfumados. Em noites de frio pedia à Rainha do Mar que me mostrasse suas filhas, as estrelas cadentes, que viravam bailarinas e com elas dançava rodando suas saias. Mas não tive apenas êxtase e deleites durante essas andanças. Fui perseguido por três ursos que morderam meus calcanhares, arranharam minhas costelas e bagunçaram o meu cabelo. Mas os venci. Sabe como? Plantei um jardim de flores com um adubo mágico feito de aço. Então as abelhas que polinizavam e produziam mel nasceram com um ferrão de ferro, 10 vezes mais forte. Assim, quando os ursos foram roubar o mel, levaram ferro. Certa vez encontrei com Marte que na verdade era Saturno disfarçado de Marte e acreditando nisso entreguei a minha lança para que ele a afiasse. Mas como era Saturno, ele transformou minha lança em um anel e ofereceu à Lua, pois Saturno amava a Lua que amava Marte que amava Vênus. Foi então que o sol, muito bravo, que amava a Lua tomou o anel que ela havia ganhado e transformou o anel numa flauta doce e me deu. A minha lança era para ter sido afiada por Marte. Mas Saturno me confundiu e aproveitando a situação transformou-a num anel que entregou à lua. O sol transformou o anel que antes era uma lança, agora numa flauta...
(...)
Neste momento da história, Pança já se deliciava com as aventuras de Dom. E como Pança era um amigo leal e fiel à Kisshot, louco para continuar as novas aventuras em sua companhia, pediu com os olhos brilhantes de esperança assim:
PANÇA: - Dom, eu tenho certeza que você conseguirá fazer com que a Dora Té volte a beber chá.
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