quarta-feira, 3 de agosto de 2016

NO MEIO DA PONTE

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Esse clima frio trouxe mariposas para o meu quarto. De madrugada uma estava camuflada sobre a escrivaninha. A luz acesa fez com que ela desaparecesse num passe. Ainda que a procurasse não encontrava nem sob nem sobre a cama. Então pensei que talvez fosse um elemental e bem podia ter sido. Eu não durmo muito tempo contínuo e antes de tentar mais uma vez ouvi uns toques no violão. Lá fora a chuva arma há dias. As manhãs são cinzas, ao meio dia vem o sol e no fim da tarde as nuvens trombam mas não caem, ainda. Os homens colocam fogo nos pastos secos e o vento traz fuligens negras para a cidade. Também por isso um lagarto amanheceu imóvel no fundo da piscina rasa. Quase todo dia zarpa um barco rumo ao velho mundo. Sei porque ouço os pássaros cantarem diferente toda vez que os navios apitam avisando que chegaram. É verdade, o trem não passa mais na estação e as sirenes das fábricas não as ouço me chamarem. Contudo, escrevi uma carta clássica aos capitães. Eles leram e entenderam que eu tenho um elo perdido que deve ser encontrado. Nesta terra? Só Deus sabe. Nesta vida? Se houver tempo. Geralmente tenho a sensação que este mês sempre passa muito devagar. Faz sentido para quem quer viver de frente para o mar mas está entre montanhas de árvores gigantes. Também tenho a sensação que o mês 10 sempre passa mais rápido que qualquer outro e isso faz todo sentido para quem quer chegar à foz dos rios, a saber que são doces mas têm gosto de sal do início ao fim dos ciclos.
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