domingo, 30 de outubro de 2016

MANUAL DO BITUCA

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Quando as cigarras começam a “cantar” às 3 horas da madrugada, numa sequência que aumenta até quase um frenesim sonoro é sinal que o dia vai ser quente como um raio. Noto, porque à essa hora estou escrevendo muitas cartas para o lado de lá. Todas elas são enviadas e todas elas hão de incitar as respostas a voltarem. As cartas falam de idas, de águas, da terra verde, do sangue (parte), falam dos bichos, falam dos homens e o que eles fazem e o que eles não fazem. É interessante porque aqui à essa mesma hora os músicos da cidade param de tocar e cantar. Quando param não tocam mais, cansados, pois, tocam para ganhar. E ganham. Mas não ganham a ousadia de tocar mais que podiam. Poderiam motivar as esquinas, toda a avenida, juntar o transeunte sem grana ao garçom que lhe serve sem som e um tímido gaitista. Poderiam até derrubar uma árvore no frio para picá-la e tocar fogo, poderiam até serem naturalistas, naturalmente nus em noites quentes. Iriam cansar mais e dormir mais, iriam marcar mais, impactar mais, sem ganhar mais, sendo apenas autênticos artistas. Como as cigarras cantam até o meio dia e por isso são notadas nas cartas que vão dia após dia.
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