segunda-feira, 27 de março de 2017

A REALIDADE VIRA LENDA

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Em tempo de quaresma, quem sabe minimamente sobre os ensinamentos cristãos, associa os quarenta dias que Jesus passou no deserto, como provação ao que sentia e ao que deveria fazer após o seu batismo pelo seu primo João. Naquele tempo, nos específicos 40 dias no deserto, Jesus Cristo foi tentado pelo demônio 3 vezes, e de certa forma passou pela provação, aceitando a difícil missão que Deus lhe dera e não a facilidade que o demônio lhe propusera. Nos tempos modernos, lembro até da minha infância, geralmente há na população até hoje a mística de se temer a quaresma, pelo fato de Jesus estar "ausente" diante das provas do demônio, e por isso o povo remete acontecimentos normais a histórias de manifestações maléficas. Antes de continuar gostaria de deixar claro que já li Edgar Allan Poe e gosto do seu estilo "dark". Por isso, neste texto ainda, irei fazer uma conexão, justamente aproveitando a quaresma e assim criar uma lenda urbana, baseada inclusive em fatos reais vivenciados por mim. Segue:
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A BRUXA DE CABEÇA PRA BAIXO
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Era o ano de 1777, havia um santo rei que viera de terras distantes para o velho mundo. Ninguém o reconhecia nem como santo, nem como rei, porque ele vivia sob um manto simples a fazer tudo que o restante da pirâmide fazia. Certa vez o santo rei foi às docas do grande porto conviver com os marinheiros e durante a noite uma mulher conseguiu ver um pedaço dos louros de ouro que o santo rei tinha alocado atrás das orelhas, mesmo com a cabeça sob o capuz do manto. Por ganância da mulher,  sedenta e inconsequente, chamou três brutos tripeiros para maltratar o santo rei e roubar-lhe os louros de ouro que tinha atrás das orelhas. Vivo, porém lesado das maldades da noite anterior, na manhã seguinte o santo rei reuniu com o alto clero e os melhores guerreiros daquela região e decidiu aplicar uma punição à mulher e aos três tripeiros. Aos homens foi-lhes derramado ouro fervente dentro dos ouvidos deixando-os todos surdos, ainda que com ouro dentro dos orifícios auditivos. À mulher foi lhe dada a punição de ficar amarrada de cabeça para baixo num mastro de um pequeno barco de madeira sem vela, ancorado há alguns metros da praia. (Certeza que esse rei era santo mesmo?) Após sete dias os homens continuaram surdos, até o fim da vida aliás, mas a mulher e o barco sumiram. Dizem que os monstros do oceano a transformaram numa escrava, numa bruxa que aparece de cabeça para baixo à todo pirata ou marinheiro que cobice a riqueza alheia e faça mal ao próximo. Tanto é que até hoje há uma escritura bem visível na porta de entrada do porto: "Todo homem ou mulher que fizer o mal aqui ficará surdo. Quem trará essa maldição é a bruxa de cabeça para baixo. Por isso, façam o bem".
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