*
Vinha eu da vista ao rio. Não tinha chegado ao farol e fiquei pelo piloto da marinha. O tempo estava nublado alto, a lua atrás das nuvens, mas ao olhar para o céu via-se as barrigas brancas das gaivotas em contraste com o céu já negro. Aviões desciam para me lembrarem que as pessoas chegam e por isso partem. Estava a caminho de casa e com o corpo quente da caminhada tirei o casaco cinza já velho e surrado que o meu irmão me dera. Como o casaco tinha um forro liso não parava quieto no meu ombro. Então resolvi colocá-lo do avesso pois assim o tecido aderia melhor ao meu peito. Já na altura do Leão da Boavista, tinha o casaco posto como as capas dos trajes acadêmicos de Coimbra, já que pelo Porto andam bem sossegados com as praxes degradantes (que ótimo). Eu ando quase sempre com a cara fechada precavendo os ímanes humanos que geralmente calham ao meu corpo que também está fechado, mas, eu sei que fazem isso naturalmente porque tenho o coração aberto. Na calçada da rotunda, um casal com um bebê no carrinho veio em minha direção a ponto de me fazer frear os meus passos para evitar um embate. Foi quando o homem disse à mulher: "Cuidado, que ele está armado". No mesmo instante retirei os braços debaixo do casaco e levantei as mãos abertas dizendo que não estava armado, com humildade. "Não estou armado, senhor". Segui o caminho de casa mas antes fui ter com o velho da torre. Subi as escadas e coloquei essa questão ao mestre. O mestre me disse assim: "Você está armado com as solas dos seus pés. Você está armado com os pêlos do seu rosto luminoso. Você está armado com as espadas nas paredes dos Palácios. Você está armado com as palavras que saem da sua cabeça. Mas é você quem precisa ter cuidado. Com os que te amam e os que te odeiam. Eles podem estar debaixo dos seus pés, pisados ou alavancando-o; podem sorrir ou chorar quando você os olha como um relâmpago fulminante; podem armarem-se a favor ou contra você; podem ser escritos como bons ou maus em suas escritas. Muito cuidado, consigo mesmo".
*
sábado, 26 de março de 2016
UM FILME POR DIA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
HISTÓRIA PARA IARA: NOSTRADAMUS
Figura iluminada, sábia, por conta da bagagem, de grande parte da história do universo d'ontem, ao que se passa hoje e amanhã talvez. Fa...
-
Cheguei de fora agora, na madruga da cidade aspirante a inteligente. E não será por gabaritos cheios ou sorte que será maravilhosa um dia. A...
-
Olha, estou sem capa, e uma vez exposto posso me acabar. Então, permita-me sentar frente a ti, cadeira ou pêndulo, à mesa reta ou circular, ...
-
Dom, costuma subir correndo as escadas da Torre para encontrar-se com o Mestre, que é o Velho da Torre, que sempre dá uns pitacos importante...
Nenhum comentário:
Postar um comentário