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Foi tão intensa a vida até agora que às vezes duvido suportá-la. Há muito tempo não confesso. Há alguns anos não desabafo com o ouvido certo. Não choro sempre, mas quando choro desidrato. O que me faz chorar é a perda da parte que não vejo. Choro por não ver tudo que amo. Por isso sofro e quase morro. A cura para isso tem dois nomes. A renúncia que pode ser a morte de fato do poeta interno, que assim morto não dedica nada mais até o fim da vida. Nem amores, aventuras ou conquistas. Nem tristezas, amarguras ou decepções. Ele isola-se, deixa de fazer o que sabe só porque sabe como deixar de fazer o que sabe. Ele pode viver a vida de um ermitão. Esse momento não é fácil. É como uma tormenta que só começou, com prenúncios que não parará tão cedo. E o seu corpo é o barco sujeito aos embalos do que é bom e o que não. Se ainda pudesse chamar o Dono da história, mesmo sabendo que é ele quem rege, para poder acabar de uma vez com essa pressão. Mas tem um outro lado da história que se chama desapego. Este, é comparado a viver sem chorar a tristeza ou sorrir a alegria mas acima de tudo digerir essas sensações de forma equânime. Entre essas duas vias de comportamento - longe da ilusão, do ego e da posse que são finitos - está a fé em algo supremo que chamo de tempo. Esse sim não tem explicação, nem início, nem fim. Para mim o tempo é o pai do destino. Meu destino eu só posso aceita-lo, despreocupado, porque ainda que duvide suportar a minha vida, eu não tenho dúvida da força da minha fé.
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quinta-feira, 28 de abril de 2016
A CRUZ E A ESPADA
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