quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

CONTOS PARA SITAGHATA: O JARDIM DO MEIO

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Certa vez um espirituoso príncipe do ocidente foi até a Índia com intuito de encomendar 4 grandes estátuas de pedra de deuses hindu, pois queria colocá-las em seu jardim a fim de criar um templo oriental posicionadas cada uma num ponto cardeal. As estátuas deveriam ser de Krishna, Ganesha, Hanuman e Narasimha. O príncipe reuniu apenas dois homens, um tesoureiro e um sacerdote e foram para a Índia. Chegando lá o príncipe incumbiu o sacerdote de procurar um escultor que fosse casto, devoto e também espirituoso, mesmo que ele não fosse o melhor artista. Ao mesmo tempo pediu ao tesoureiro que procurasse o escultor mais requintado, excêntrico e famoso. Os dois conselheiros voltaram com os orçamentos dos artistas que encontraram e o príncipe decidiu pelo talhador casto e espirituoso encontrado pelo sacerdote e explicou ao tesoureiro que antes mesmo que saíssem em procura ele já tinha feito a sua escolha. O príncipe só queria saber o preço que o talhador famoso e careiro cobrava para pagar 3 vezes mais esse valor ao talhador devoto e casto. Por um momento tanto o sacerdote como o tesoureiro não entenderam a decisão do príncipe, mas seguiram até o atelier do artesão e escultor devoto para dar autorização para iniciar as estátuas. O príncipe disse-lhe que as estátuas deveriam ser de Krishna, Ganesha, Hanuman e Narasimha, e ficariam cada uma num ponto cardeal do seu jardim. Pagou a quantia 3 vezes maior que o valor pedido pelo o outro artista e deixou tudo acertado para que as estátuas chegassem de mercante à sua terra. Voltaram ao ocidente e um mês depois chegaram as estátuas em seu casarão. Havia uma carta do artesão agradecendo a quantia paga, que esta serviu para ajudar a sua comunidade, principalmente crianças carentes e os mais necessitados. O escultor colocou ainda um bilhete em cada estátua dizendo:  “1) Krishna tocando flauta em pé e com as pernas cruzadas em perfeito equilíbrio, deve ficar no ponto norte, pois ele é a orientação máxima, o Deus dos esclarecimentos todos. 2) Ganesha, o deus com cabeça de elefante deve ficar no ponto leste pois sendo o deus da inteligência e abundância ilumina como o sol as nossas vidas e prospera como todo amanhecer. 3) Hanuman, o deus com cabeça de macaco deve ficar no ponto oeste pois engenhoso e persistente como o tempo ele percorre o dia, voa forte e chega como as luas que clareiam as noites. 4) Narasimha, o deus com cabeça de leão, feroz matador de demônios, deve ficar no ponto sul, para respeitosamente curvarmos a cabeça para baixo, para lembrarmos da morte que arrebata à todos, e para verdadeiramente praticarmos o bem.” Depois de posicionadas as estátuas o príncipe reuniu com os dois conselheiros que foram em viagem e explicou-lhes que o dinheiro pago por aquelas estátuas foi para a pessoa certa, o escultor casto, modesto e devoto que não usaria tal valor em deleites prazerosos próprios e ainda transmitiu conhecimentos do hinduísmo pacificamente ao ocidente. O jardim passou a ser um local público, de calmaria e recreio a todos que nele circulam. Brincam felizes os filhos do príncipe junto de outras crianças, com seus pingentes em crucifixo, os que olham para as estátuas refletem, despertam sobre elas uma fantástica sensação de estarem mesmo lá, em cada ponto cardeal, no interior de cada deus. O jardim tem um nome, Jardim do Meio.

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