quinta-feira, 9 de março de 2023

ETERNO EMBARQUE

Carta de muitos cognomes:
Sou feliz imenso pelo regalo, algo que um formando inclui na bagagem. Tenho lido trechos dos capítulos de textos que contam como era antes e assim vou ficando rico. Daí devolvo, compartilho. Creio que as interatividades humanas e o meio onde estamos - toda vez que é boa - incrementa a evolução por causa do movimento que gera fluxo de conhecimento. Das autoridades que permitiram citar Pessoa, permitem também o Darwin, e outros que aparecerão. Disseram, gravaram e replicaram na mente de poucos, que os livros quando estão fora das estantes das bibliotecas é um sinal da sua finalidade, justamente na frente dos olhos, nas mãos, dentro dos ouvidos e na mente dos homens, já que os silvestres não processam o intelecto. Todos os sentidos humanos podem absorver livros. Essa carta é mais uma das muitas convictas, composta de força e segurança expressiva, pois num todo explica a importância das manifestações. Hoje em dia estejamos atentos aos que nos sugam com as invasões de tudo que tentam captar da realidade do que emanamos, por isso às vezes invento ficções para confundir os carrascos. Posso propagar laços eloquentes quando na verdade agonizo no tempo, como Atlas, sem qualquer beijo quente. E toda vez que saio da bolha (casa) fervendo em suor rio, tal qual toda vez que volto pra caverna choro e nem o Show de Truman nota isso. É uma confiança confessar, quem elabora para quem desde o início habita, só que reencontrando de súbito, acorda o famoso Platão. Esse que admira o passear dos transeuntes é imune aos exageros das paixões e tem armaduras contra a perdição dos ignorantes, contido e armado com respeito. Com certeza quando estou em transe, chego por várias fontes e escrevo mais e melhor. E falando atuo também, quando em transe atinjo e nem se nota. Numa sociedade atrasada, nesse país lindo, grande, rico, forte e atrasado de educação e essências básicas e fundamentais, é um risco dizer certas palavras, nesse caso nenhuma tão complexa ou floreada, mas só o "transe" para quem não come o dicionário, fica com a pulga atrás da orelha. O que diria "oráculo", "prometido", "encoberto". Quero ter a sorte da compreensão de quem me entrego e falo sério para quem tem muitos cognomes. Às vezes aumento, mas confesso que amo imensamente o mundo. Esse trecho agora é quase que uma cópia das explicações contidas noutras cartas. No futuro longe, se metade da estrada que construo agora estiver certinha, saberão que há muito tempo desde os 17 anos assumi a coragem de escrever e desfragmentar meu coração, quase entregando-o por completo, até hoje, tentando evitar erros, fugindo do no sense, trabalhando no que é complexo e pode ser compreendido. Isso é exatamente o que desmascara as sensações e as impressões da vida, dia e noite, tic e tac, até o fim. Quando quem sano e consciente assume que o complexo pode ser compreendido, dominando o ego, ganha o meio do Selo de Salomão, conhece os posicionamentos, o campo, as bases e tudo que é simples. Ali, conhece o que é misto, as entrelinhas místicas, a natureza real, o efeito das lufadas de ares puros, sente as águas límpidas, a flora e as sonoridades dos bichos, os pios d'aves, nas viagens que potencializam outras artes, desenhos, instrumentos musicais e o que sai dessas natas. Conhece também o que é explícito, claro, evidente, revelador e o que compõe a coragem dos construtores literais, ficando nu aos leitores. Quem lê em primeira pessoa, nesse caso uma alma que me acorda, faz parte da história e de forma bem branda não posso fugir ao dizer isso. Eu acredito piamente que as musas existem e por isso os poetas vivem. Isso remete às luas, como a que agora passeia no céu da janela da torre da praça no vale que não venta. Há quem tem a sorte de vê-la ao lado da Dama, a lua cheia. A Dama, sendo musa é poderosa e decisiva, pois impulsiona ou freia a aproximação. Tem acesso à mil sóis brilhando ao mesmo tempo. Só que a Dama sem saber que é musa, sem querer queima a porta, castiga a paixão. É por isso que eu reforço a ideia de escrever essa carta para muitos cognomes, por acreditar que haverá uma única nova compreensão. Na idade trago um peso invisível, não totalmente físico, e é estranho porque acho que noutra vida talvez tenha morrido antes. Hoje vivo, calejado de impressões passadas e diárias – como todo mundo tem suas balanças, até os reis –, só que o fardo não me impede enquanto a morte não chega e as doenças não agarram, pelo contrário, venço os dias do calendário e sigo ao máximo forte de corpo e mente, autêntico, almejando conquistas e sarando dores. Bem dolorida as costas e o pescoço, as pernas suportam o avanço. Çakyamuni, o Buda, disse certa vez que uma vez vivo as dores são inevitáveis, então é saber disso e avante. Sofro tanto o desligamento diário do desenvolvimento de um filho. Sofro tanto. Como um castigo desse destino. Mas, sigo. Ao mesmo tempo ciente do presente, antenado ao futuro desse mesmo destino. Criar genética é uma dádiva das mais maravilhosas que existem. E criar querendo é fazer com vontade, querer iguais a si e a quem também quer de si. E querer as obras, a organização das forças e sua lealdade, os feitos, as histórias, os elos, as ideias, a realização dos sonhos, as construções, as amizades fiéis, os amores. Mas quem irá querer isso? Eu só queria dizer isso para muitos cognomes. E permita-me despedir-me. Com todo meu respeito e gratidão porque é a força de muitos cognomes responsável por isso. Pode ser que eu parta hoje, pode ser que eu parta amanhã, pode ser que chova, pois há muito abafa a terra esses dias pelando de sol, pulsa o coração e a cuca. Então a chuva que escorre, limpa, enche veias de riachos e esfria todo tipo de vida nos campos, vilas e cidades que ficam. Por fim, eu partirei um dia, mas por você eu voltaria sempre, e escreveria exatamente assim.

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