quinta-feira, 11 de maio de 2023

REPASSAGEM

Depois de 3 meses que minha filha nasceu no final do inverno de 2009 em Roskilde, migrei com a jovem e aventureira família para Braga, a cidade dos Bispos. Anos antes havíamos chegado caminhando em Braga vindos do Caminho de Santiago, tenho dito. Aquele período foi um upgrade do nosso universo. Reingressamos na Universidade, registramos as identificações sociais, pertencemos ao funcionamento da máquina recebendo e contribuindo, a saber, repassando alimentos aos romenos e búlgaros, ciganos com ouros nos dentes e fedores sem banho, fugitivos dos países do leste e também escrevendo, fotografando, pintando, educamos, caminhamos por bosques, jardins e calçadas um tanto sujas de cuspes e bostas. Certo dia, em Braga, recebemos Ronaldo Werneck e Patrícia Barbosa, de Cataguases. Eles estavam numa turnê poética encabeçado pelo R.W., mas com direção do carro e das vibes por P.B. Nos encontramos no T3 da Padre Manuel Alaio. Tomamos café, R.W. começou a ser desenhado, fumamos cigarro, saímos a noite, ouvimos sentado à mesa a beber vinhos um poeta bêbado – já morto – a cantar o fado... Depois eles partiram e nos encontramos no futuro em outros sítios, em mesas com vinhos e mais vivos. Eu “tive” um professor de genética no mestrado no Minho que aparentemente se irritava com minhas perguntas. Num todo era evidente que ele se irritava com minhas respostas, não muito diferentes dessa forma de escrever, mas é importante dizer eram dadas com a mesma finalidade de provar saber. Na época o código de barras do DNA (DNA barcode) estava na moda, e nesse mesmo dia que chegara R.W e P.B a Braga, rolava uma conferência acadêmica do assunto em destaque, todo ele em formato comunicativo em inglês – algo corrente e proposital por núcleos refinados lusos, isso de querer colocar a lusofonia em segundo plano. Essa linha não é condenável, pois ela fisga mesmo a seleção de quem domina a língua inglesa, no mínimo, como se estivesse em Inglaterra, ou outra, que se rebaixem como a mais fera. É bom e bonito dizer isso porque quem não sabe minimamente a língua portuguesa, nesse caso precisará traduzir para entender isso. Daí então a genética foi chumbada, o professor efetuou isso, porém meu percurso formativo foi continuado mais acima no Douro, até Espanha, a falar portugaliza, com o ordenamento do território na sola, nos trilhos madrugadores e tardios até às salas brancas e metálicas à beira rio Minho, até aos cristais nas cabeças dos peixes. Essa passagem serve simplesmente para uma máxima que fala mais ou menos assim: Saber muito sobre algo diante de tanta coisa que existe te torna apenas conhecedor disto ou daquilo. As consequências de saber afeta algumas vezes por sorte, por herança, outras por burla, outras por mérito, todas as formas contaminando o ego e evidenciando comportamentos boçais ou iluminados. “Você pode ser um doutor em alguma coisa e ainda assim ser um idiota no dia a dia”. Saber muito sobre algo não te torna conhecedor de tudo. Saber muito e ainda humildemente reconhecer recato e busca por saber, por não saber tudo, isso sim te faz ser reconhecido sobre a grandeza de tudo. E sobre o código de barras do DNA, talvez tenha sido reprovado por escrever assim, usando enfim os elementos da temática em português. Esse texto sem criptografia se for triado em palavras e conjuntos linguísticos cada qual com um símbolo micro ou em barrinhas espaçadas, poderia ser simplificado num grãozinho compacto de determinada forma, composição, peso, cor e até sabor. E as I.A.s que se virem pra explicar.

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