quarta-feira, 14 de junho de 2023

ESSA ÁRVORE PRECISA SER MANEJADA

Quando eu era moleque, com pés descalços, colar de suor e poeira no pescoço, junto de meninas e meninos na pracinha, subia nas árvores e via por alguns momentos todas as coisas do alto, daquela altura. Quando ultrapassava a linha das copas então, havia o mais alto ainda, que é o céu de uma criança. Isso era como um voo de avião ou tocar os pés dos pássaros livres. Meninos e meninas do meu tempo tiveram ao seu modo uma sensação sobre esses feitos. Nas praças, hoje em dia, quase nenhuma criança sobe em árvores, tampouco lêem (alguns sim, lêem) muito menos coisas como essas (eu gostaria que meus descendentes lessem o que escrevo), pois assim é possível contar-lhes sobre a beleza da vida, mesmo ausente. São muitos oitis nessa cidade. Oiti é um dos nomes populares de uma espécie arbórea nativa da mata atlântica (Licanea tomentosa). Historicamente, foram plantados em campanhas antigas iniciais da cidade, traçados por condutores da época, nos impulsos, alguns de certa visão futura sobre a composição da cidade. Quando foram plantadas (quando são plantadas árvores, criados jardins em alamedas nos lócus urbanos), para toda botânica espera-se que vivam 50, 70, 100 anos e/ou mais, na continuidade da composição da paisagem, seja ela equilibrada para a posteridade. Eu não subia propriamente nessa árvore da imagem. Esta é uma Sibipiruna (Caesalpinia pluviosa). Quase ninguém, aliás, subia nessa árvore. Mas hoje em dia ela precisa ser manejada, e há quem suba, pois pesa o tempo sobre ela, os ciclos, os ventos, e antes que caiam pedaços dela ou tombe sobre nós, essa árvore precisa ser manejada.

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